Em 2017, publicamos em nosso blog um texto em que previa o fim do indicador de saving para a área de compras. A ideia desse polêmico indicador é medir o quanto de economia você alcançou nas negociações com os seus fornecedores, independente do valor oferecido.
Na época, o Diretor Educacional da Live University, Alex Leite, afirmava que a maioria das empresas optava em priorizar o preço, em detrimento da qualidade do que era adquirido: “você tende a não privilegiar o que é bom para a empresa em detrimento, somente, do dinheiro que você vai economizar”.
Será que agora, cerca de dois anos e meio após a publicação daquela matéria, o pensamento das áreas de compras a respeito do saving mudou? Ou será que ele tornou-se ainda mais comum? Conversamos novamente com Alex Leite, que foi ainda mais contundente sobre o quão ultrapassado é o conceito deste indicador para as empresas:
“Eu acho que houve a mudança de mentalidade em poucas empresas e em poucos executivos. Alguns já tomaram uma iniciativa maior de equilibrar este indicador com outros indicadores e pensar de uma maneira que gere valor, mas ainda é muito tímido perante o que eu acho que tem que acontecer. O saving é o câncer da área de compras. Ele, como único indicador e norteador da área, é muito prejudicial. E eu chamo de câncer porque ele vai corroendo aos poucos toda a mentalidade de que a área de compras pode ser estratégica. Esse ‘querer ser estratégico’ significa trazer mais inovação, mais geração de valor, soluções novas, novos fornecedores, melhoria de produtividade. E todas essas novas soluções podem não custar mais barato comparativamente à compra anterior”, afirmou Alex.
O diretor educacional ainda apontou que outros indicadores poderiam ser trabalhados numa área de compras. Ele citou que o TCO (Total Cost of Ownership) costuma ser utilizado junto com o saving, mas ainda é muito pouco para o ideal estratégico que a área precisa buscar.
“O TCO apenas adiciona um elemento a mais no custo de composição total, mas não traz elemento de inovação, de novos produtos. Os outros indicadores podem medir o quanto você captura de geração de receita lá na ponta devido aos novos fornecedores e novas soluções que você trouxe. E também são importantes os indicadores de integração entre a área comercial, industrial e compras, porque ao invés de medir isoladamente, a gente mede a satisfação e resultado lá na ponta. O Net Promoter Score (NPS), que é um indicador tipicamente usado pelo marketing, deveria ser usado em conjunto com a área comercial, de compras, e deveria ser o outro cara para conseguir um novo tipo de aferição não focado só no saving”.
E o pessoal de compras, o que eles pensam a respeito do saving? Apresentamos a opinião do diretor educacional da Live University à quatro profissionais da área, que citaram também seus pontos de vista a respeito, concordando ou discordando do que foi dito por Alex.
Afinal, o saving é mesmo um câncer para a área de compras? Confira!
Lucas Ramalho (Gerente de Compras Latam na Tait Communications)
Não acho que saving seja um câncer. Na minha opinião, o conceito de saving vem sendo depredado ao longo dos anos. O conceito de saving precisa ser mais bem interpretado. Que tipo de saving queremos controlar? Como os conceitos de “Should Cost’ e “TCO” vão influenciar? Venho escutando muitos compradores falar em saving, mas na verdade não são reduções reais e não deveriam receber esse nome. Mas o câncer não é o saving, e sim a forma errônea que este instituto vem sido encarado.
Luciano Viana de Melo (Gerente de Suprimentos, Compras e Facilities no SESI-PE) Podemos considerar que este indicador hoje corrói sim as operações em compras. Ele ocupa um tempo dos profissionais no monitoramento e coloca as atividades dos analistas de compras como o famoso “pedidor de desconto”, pois não existem metodologias (conceitos) que possam aferi-los. Este indicador foi criado em uma época que as empresas compravam de uma forma diferente, onde os preços dos produtos e serviços eram sigilosos, e isso fazia parte da estratégia. Porém hoje existe um novo mercado e indicadores mais eficientes para as áreas de compras e que contribuem com resultados mais consistentes.
Everton Almeida (Analista de Suprimentos Sênior)
Não concordo, toda área de compras é movida a saving. O departamento de compras nos últimos anos sofreu uma mutação gigantesca. O saving para o comprador atual também pode ser medido por uma boa relação entre fornecedor, com uma garantia de um melhor OTIF. Em resumo, para um departamento de compras, o saving é uma premissa.
Isabelle Lazzarotto Teixeira (Supervisora de Compras no Grupo Mascarello)
Não considero esse indicador como câncer, pois é um dos principais KPIs da área de compras, o objetivo sempre é comprar bem para obter melhor performance, para isso o saving é de extrema importância.
Tags: COMPRAS, SAVING
Fonte:https://inbrasc.liveuniversity.com/2019/07/16/o-saving-e-um-cancer-o-que-o-pessoal-de-compras-pensa-sobre-isso/?utm_source=linkedin-organico&utm_campaign=artigo-saving